Variedades de Português e Línguas de Contacto de Base Lexical Portuguesa ao Redor do Mundo
Série de Palestras abertas (2021)
O Centro de Investigação de Estudos Luso-Asiáticos, organiza entre os dias 03 e 17 de Dezembro a 1ª. edição da sua série “Variedades de Português e Línguas de Contacto de Base Lexical Portuguesa ao Redor do Mundo”.
As palestras estão organizadas em três sessões distintas a terem lugar nas datas e nos horários anunciados. Cada sessão focará sobre realidades linguísticas e ecologias sociolinguísticas de uma região ou país relativamente a uma ou mais variedades de português e /ou de crioulos de base-lexical portuguesa (africanos ou asiáticos).
Os respectivos resumos irão sendo disponibilizados aqui e também na página do Dep. de Português da Universidade de Macau, à medida que a série avançar. Endereço da página do Dep. de Português da Un. Macau: https://fah.um.edu.mo/department-of-portuguese/events/
DATAS E TEMÁTICA DE CADA SESSÃO
Sessão 1 (03/12/21) Variedades do Português de Sāo Tomé e Príncipe
Palestrantes: Gabriel Antunes (Un. Macau); Ana Lívia Agostinho (UFSC); Amanda Macedo Balduino (USP)
Resumo:
Esta apresentação discute fenômenos linguísticos do português santomense e do português principense (PST e PP) e apresenta um esboço histórico de sua difusão no arquipélago. O surgimento dessas variedades em São Tomé e Príncipe (STP) remonta ao fim do período colonial português em um ambiente plurilíngue, e ao seu desenvolvimento inicial como segunda língua que levou à sua adoção como língua materna da maior parte da população. Assim, a partir de dados coletados em STP, a apresentação traz um panorama sincrônico de fenômenos linguísticos como: harmonia vocálica, apagamentos segmentais, perda de contraste de róticos, neutralização de vogais médias, concordância de gênero e toponímia. O exame desses processos nos permite concluir que é evidente o desenvolvimento de variedades locais em STP, constituindo a macro variedade do país (PSTP).
Sessão 2 (10/12/21) Crioulos asiáticos de base lexical portuguesa: o português do Sri Lanka e o papia cristang
Palestrantes: Hugo Cardoso, Patrícia Costa (CLUL) & Hans-Jörg Dohla (Un. Tübingen)
Hugo C. Cardoso (Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras)
O percurso do Português do Sri Lanka: ascensão e declínio
RESUMO: Entre o conjunto dos crioulos luso-asiáticos (existentes ou extintos), o do Sri Lanka (o antigo Ceilão) notabiliza-se por, em certo momento da sua história, ter tido uma implantação tão substancial entre a população do território que diversos agentes (coloniais e religiosos) sentiram a necessidade de promover um processo de descrição e padronização da língua. A sua situação atual, contudo, é bastante distinta, tendo-se observado uma contração geográfica e social que, apesar de não ter neutralizado o uso da língua, a coloca agora sob séria ameaça. Nesta comunicação, cartografamos, na medida do que os documentos nos revelam, o percurso de formação, expansão e contração do chamado Português do Sri Lanka. Apresentaremos ainda um conjunto de iniciativas que, em tempos recentes, têm promovido não apenas a documentação e descrição desta língua, como também a sua preservação.
Patrícia Pardal da Costa (Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras – CLUL)
Variação como objeto de estudo em línguas crioulas: o caso do Crioulo português do Sri Lanka
RESUMO: Apesar de a variabilidade se constituir como uma propriedade inerente e universal das línguas do mundo, a descrição sincrónica de uma língua nem sempre contempla a documentação e inclusão de instâncias de variação, uma vez que esta pode ser percecionada como um fenómeno marginal, atribuível a forças aleatórias ou resultante de erros de performance. Noutros casos, devido à obsolescência e ao tamanho reduzido das comunidades, é o acesso a uma amostra demográfica restrita e ao seu comportamento linguístico mais ou menos homogéneo que conduz à descrição categórica de certos fenómenos. A estas limitações mais gerais, acresce ainda a dificuldade de identificar e interpretar instâncias de variação em línguas sub-documentadas e/ou sub-descritas, as quais não beneficiam nem da investigação linguística e etnográfica prévia nem da uniformização de que outras línguas dispõem. Tomando como caso de estudo o Crioulo português do Sri Lanka e a análise de dados espontâneos constantes do seu corpus de documentação (Cardoso 207), discutir-se-ão nesta apresentação os desafios metodológicos e as potencialidades associadas ao estudo da variação sociolinguística em línguas crioulas, situadas não raras vezes na interseção entre o contacto, a obsolescência linguística e dinâmicas sociais necessariamente idiossincráticas.
Hans-Jörg Döhla (Tübingen), Anja Hennemann (Potsdam) & Alexander Teixeira Kalkhoff (Regensburg)
Os marcadores aspectuais em papiá kristang: Usos e funções a base dum estudo empírico
RESUMO: Ao contrário de outras línguas crioulas de base lexical portuguesa, o papiá kristang (Malaca, Malásia) dispõe de três marcadores gramaticais TAM (tempo-aspecto-modo) que codificam somente o aspecto e o modo e que, além disso, não se combinam um com o outro (vide Baxter 1988, Pinharanda Nunes/Baxter 2004). Os marcadores ta (1) e ja (2) codificam o imperfectivo e o perfectivo e lo (3) marca o futuro irreal:
(1) pai ta bai Singapura
father ipfv go pn
‘Father is going to Singapore’
(2) “ja ola yo sa gatu?”
pfv see 1sg poss cat
‘“have you seen my cat?”’
(3) Yo… kore ake buraku lo intara ku eli.
1sg dig dem3 hole fut bury obj 3sg
‘I… dig that hole and (we) will bury it’
Não é surpresa que o papiá kristang não dispõe de marcadores formais do tempo porque o malaio bazar e o chinês hokkien como as línguas substratos e adstratos primeiros de papiá kristang também não dispõem desses marcadores morfológicos do tempo. Apesar disso, a integração temporal dos eventos em papiá kristang é evidentemente possível.
Baseado em dados empíricos (36,000 tokens) –coletados num trabalho de campo sobre a variedade basilectal de papiá kristang (Döhla 2021) – nosso estudo analisa os recursos linguísticos para codificar as categorias gramaticais e funcional-semânticas do tempo e da temporalidade. Estes dados semi-espontâneos provêm de dezesseis locutores que narraram uma estória através de quarenta imagens. Em nosso corpus contamos 1,086 ocorrências de ta, 1,537 ocorrências de ja e 68 ocorrências de lo.
No marco do presente estudo analisaremos a distribução e função dos marcadores formais do aspecto com verbos que expressam eventos dinâmicos e estáticos (Aktionsart), a interação entre aspecto e tempo, e a perspectiva do locutor (viewpoint aspect).
Nossa investigação apresenta dados empíricos de como funciona um sistema formal puramente aspectual a respeito da expressão do deixis temporal. Mostramos como funciona uma codificação complexa através de meios formais pouco complexos.
Sessão 3 (17/03/21) O Português de Angola — diacronias e sincronias
Moderator for this Session: Prof. Carlos Figueiredo (UM)
Palestrantes: Márcia Oliveira (USP) & Eduardo dos Santos (UNILAB)
RESUMO 1:
“Languages in Portuguese” – examples of linguistic phenomena in the vernacular varieties of Brazilian Portuguese, Portuguese and Angolan
Prof. Márcia Duarte Oliveira dos Santos (USP)
In this conference, I seek to exemplify some linguistic phenomena in three varieties of Portuguese: (I) vernacular Portuguese spoken in Brazil (VBP); (II) vernacular Portuguese spoken in Portugal (VPP); (III) vernacular Portuguese spoken in Angola (VAP). The term “vernacular” refers to speech data generally captured in informal situations and not committed to the ‘norm’ of each of these countries; these speech data can be expressed in distinct areas (not necessarily all areas) of a given macro-speech variety. From the exemplification of a given variety (Angolan Portuguese), “free translations” will be offered in the other two varieties (Brazilian and European Portuguese).
——————————————————
RESUMO 2:
Towards a Language History of Angolan Portuguese form Amélia Mingas Productions: preliminary study
Prof. Eduardo Ferreira dos Santos (UNILAB)
Our presentation aims at a brief approach on how the reflections of the Angolan linguist Amélia Mingas (1940-2019), present in some of her academic productions, contribute to the construction of a transatlantic linguistic history (NEGRÃO, 2020; COELHO & FINBOW, 2020 ). Thus, we seek to highlight the context in which Mingas’ works were produced and examine the presence of lexical units, such as “Angolan Portuguese”, “interference”, “Angolan”, etc., which were reinterpreted based on ideological choices and which help us in the conception of a subequatorial and decolonized transatlantic historiography.
HORÁRIOS
Sessão 1 (03/12/21) 20:30 (Macau); 12:30 (Portugal); 09:30 (Brasil)
Session 2 (10/12/21) 18:00 (Macau); 10:00 (Portugal); 07:00 (Brasil)
Session 3 (17/12/21) 20:30 (Macau); 12:30 (Portugal); 09:30 (Brasil)
ACESSO: Todas as sessões são de livre acesso e realizadas online por ZOOM em: https://umac.zoom.us/j/93458074389